Mychella Flowers, conhecida também como a Bastarda de Mesalonga na Campina, era uma jovem bastante peculiar e atraente. Vivendo em um mundo que parecia levemente particular, ela emanava uma aura de profundo mistério. Como se um segredo lhe pertencesse, e ela não estivesse pronta para dividi-lo com os outros. Criada em Mesalonga, depois de ser retirada de sua mãe, ela sabia bem o seu lugar. Foi educada como uma dama nobre, e nunca tratada de maneira mesquinha ou violenta pelo seu irmão Bryen, o atual Lorde Merryweather. Contudo, infelizmente ela foi vítima do sentimento mais cruel e ingrato de todos, a paixão. Seduzida por um dos homens da família Wythers, herdeiro do Lorde e hóspede de Mesalonga, Mychella acabou ficando grávida. O escândalo foi ainda maior quando sua condição foi descoberta, já que em sua noção fraca de fé, tinha sido fiel à Mãe e recusado-se a tomar o chá de lua. Mesmo pressionada por Bryen, ela não contou a identidade do seu deflorador. Não queria que guerra entre as duas Casas fosse iniciada, agora que seu amado tinha sido sagrado cavaleiro e já tinha retornado à Toca do Esquilo, a fortaleza ancestral da família.

                   Um futuro Lorde não podia amar uma bastarda. Ele casaria com a mulher Beesbury, Florent ou Tarly à quem tinha sido prometido, e talvez um dia viesse buscar o seu filho ou filha, se tivesse sorte. Ela sabia que não teria. Não quando reclamar a criança significaria que todos soubessem de sua transgressão. A Senhora Merryweather era boa e a tinha tratado como uma filha, mas ela tinha ciência de que nem todas as Ladys seriam assim. Outras poderiam matar sua criança. Portanto, manteve-se calada e suportou quase toda a gravidez. Quando uma tempestade terrível abateu-se sobre Mesalonga, não chovia há meses na Campina. Todos estavam felizes porque teriam água em suas plantações. Raios riscaram o céu, imponentes. Ela, carregava uma cesta de pães e maçãs para o pequeno septo da Casa Merryweather, próximo ao singelo jardim de Mesalonga. Foi quando um raio atingiu de maneira horrível uma das estátuas sobre as fontes e a atirou pelo ar como um menino que lança uma pedra de sua atiradeira. Seus pés e mãos ficaram chamuscados, e seu corpo entrou em trabalho de parto imediato.

                       Seu filho nunca chegou a viver. E o parto defeituoso quase a matou, a ponto do Meistre recomendar fortemente que ela jamais voltasse a engravidar. Amargurada por sentir-se abandonada pelos seus deuses, Mychella jurou que um dia encontraria a vingança do homem que a tinha enganado, deixando-a sozinha para suportar a perda de um filho. Ainda que Bryen e sua família a amassem, enquanto ela permanecesse com eles a mancha dos seus erros dificultaria a vida de seu irmão. Nunca encontraria um casamento, agora que as servas tinham espalhado que o seu ventre tinha sido amaldiçoado pelas mãos do Estranho, por causa do raio. Ela não tinha saída. Envelheceria como as flores e os frutos da cornucópia que nunca poderia considerar um símbolo próprio. Aquela era a família de seu pai, não dela. Nunca seria nada além de uma trágica lição, uma desonrada para ser apontada por mulheres mais velhas, enquanto ensinavam às suas filhas. Não podia suportar tal vergonha. Não faria com que Bryen a suportasse com ela. Era inteligente, bonita. Sabia o que a esperava quando saísse de Mesalonga para viver sozinha. Uma mulher sozinha, pode ser arruinada pelo próprio corpo, ou glorificada por ele. Depois de provar do que o amor era capaz, ela escolhia  a segunda opção. Enganaria muitos homens, como Wythers a tinha enganado. E nunca mais acenderia uma só vela para os Sete. Se eles a tinham amaldiçoado, encontraria outros a quem servir.

                 Quando ela partiu com os mercadores da Casa Merryweather, partiu em segredo e nas vestes de uma camponesa. Deixou para trás seu único bem de valor, uma presilha que simulava a cornucópia, com pedras preciosas de várias cores no lugar dos frutos e legumes. Havia também uma carta para seu irmão.

             


                   Encontraria em Porto Real um caminho para o recomeço. Não sabia se Bryen teria algum interesse em encontrá-la, mas sabia que ele jamais imaginaria que ela, a sua amada irmã, se tornaria uma prostituta à sombra da Fortaleza Vermelha. Na Casa Púrpura, o maior e mais exótico bordel da cidade, conheceria Imogenia de Lys, sua mentora e empregadora. Uma senhora de idade, já doente e caolha, que sabia explorar moças como ninguém. Ela gostava de Mychella, sabia que ela tinha educação e tino para os negócios. Alguém para ficar ao seu lado e futuramente, em seu lugar. Alguém para sustentar os seus filhos, depois que ela morresse. Alguém para encantar os homens, e encher seus bolsos de dragões westerosi.

                       E Mychella havia aprendido como ninguém.

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